segunda-feira, 3 de agosto de 2020

COLETIVO TEM SENTIMENTO: CUIDADO COM AS PESSOAS VULNERADAS DA REGIÃO DA LUZ


A populosa cidade de São Paulo, atualmente com mais de 11.869.660 pessoas sendo muitas advindas de outras regiões do Brasil e de várias outras partes do mundo é uma cidade paradoxal, onde a opulência caminha opostamente à miserabilidade: ao mesmo tempo onde estão concentrados os grandes bancos, o mercado financeiro em alta, as pessoas de classe econômica alta, estão também aquelas que vivem em estado de miserabilidade plena, ou seja, vulneradas, morando nas ruas da cidade. Dados oficiais de 2020, (embora controversos), apontaram um total de 24.344 pessoas, sendo que destas 11.693, vivem nos vários centros de acolhidas e 12.651 habitam as ruas; mais de 20% delas estão na região da Mooca e Centro da Cidade incluindo a região da Luz, local onde está inserida a denominada “Cracolândia”.

 A população que habita as ruas é fruto da desigualdade existente no país - além de invisíveis, são também excluídas pelas políticas públicas. Frente a essa dura realidade, vários movimentos religiosos, organizações não governamentais (ONGs) e coletivos acolhem e cuidam dessa população na cidade de São Paulo. Entre eles se destacam, na região da Luz, o Coletivo Tem Sentimento, fundado há aproximadamente quatro anos pela assistente social Carmen Lopes. Carmen, além de moradora da região, também trabalhou alguns anos como educadora social no Programa de Braços Abertos na região da Luz e conhece o território do centro como “a palma da sua mão”. Após sua saída do Projeto de Braços Abertos, resolveu por suas próprias forças e sem nenhum incentivo financeiro ter um pequeno espaço onde pudesse continuar cuidando das pessoas em situação de rua de forma humanitária, respeitosa e inclusiva. Assim nasceu o Coletivo Tem Sentimento, com o objetivo de atuar no território da Cracolância, junto à população dos moradores de rua, levando acolhimento, respeito, convite de autocuidado, cultura e atendimento as necessidades básicas dessas pessoas. Este coletivo ficou durante alguns anos sem local fixo para funcionar, mas atualmente está junto à companhia de Teatro Contêiner Mugunzá na Rua dos Gusmões, n. 43. Inúmeras ações já foram desenvolvidas no território: confecções de peças íntimas para as mulheres em situação de rua, atividades culturais com as pessoas em situação em vários locais da cidade dentre eles o Museu do Futebol, a participação do Blocolândia, bloco de carnaval composto pelas pessoas em situação de rua, distribuição de água, preservativos e alimentação às pessoas.

Carmen organiza ainda uma pequena oficina de costura onde as mulheres confeccionam camisetas, bolsas e outros materiais que são revertidos em renda para a sua própria subsistência e do coletivo . Além disso, antes da pandemia aos sábado pela manhã o Coletivo organizava encontros na Praça General Osorio de (auto ) cuidado com as mulheres em situação de rua, incluindo as transexuais, para cuidado em relação ao corpo, com cortes de cabelo, maquiagem, cuidado com as mãos, distribuição de roupas, dentre outros cuidados voltados a melhoria da autoestima dessas pessoas. Além disto, inúmeras rodas de conversas também eram realizadas aos sábados na praça, para escutar os anseios e sofrimentos das pessoas.

Durante a pandemia, o Coletivo Tem Sentimento continua trabalhando na confecção e distribuição de máscaras, distribuição de água e produtos de higiene e, junto a demais coletivos, oferece quinhentas refeições diárias às pessoas vulneradas sempre com muito acolhimento, respeito e ética, pois este grupo tem como princípio norteador de suas atividades a luta contra o preconceito, a estigmatização das pessoas em situação de rua e a defesa de seus direitos.

Autoras:

Carmen Lopes – Assistente Social, Fundadora e Coordenadora do Coletivo Tem Sentimento.

Eroy Aparecida da Silva - Doutora em Ciências-UNIFESP, Psicoterapeuta Familiar e Comunitária, Psicóloga - Associação Fundo de Incentivo a Pesquisa-AFIP, Pesquisadora na Área de Álcool e Outras Drogas - Ativista Social e Colaboradora Voluntária do Coletivo Tem Sentimento.

 


Programa Atitude: uma outra possibilidade de cuidado

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