A populosa cidade de São Paulo, atualmente com mais de 11.869.660 pessoas sendo muitas advindas de outras regiões do Brasil e de várias outras partes do mundo é uma cidade paradoxal, onde a opulência caminha opostamente à miserabilidade: ao mesmo tempo onde estão concentrados os grandes bancos, o mercado financeiro em alta, as pessoas de classe econômica alta, estão também aquelas que vivem em estado de miserabilidade plena, ou seja, vulneradas, morando nas ruas da cidade. Dados oficiais de 2020, (embora controversos), apontaram um total de 24.344 pessoas, sendo que destas 11.693, vivem nos vários centros de acolhidas e 12.651 habitam as ruas; mais de 20% delas estão na região da Mooca e Centro da Cidade incluindo a região da Luz, local onde está inserida a denominada “Cracolândia”.
A população que habita as ruas é fruto da desigualdade
existente no país - além de invisíveis, são também excluídas pelas políticas
públicas. Frente a essa dura realidade, vários movimentos religiosos, organizações
não governamentais (ONGs) e coletivos acolhem e cuidam dessa população na
cidade de São Paulo. Entre eles se destacam, na região da Luz, o Coletivo Tem Sentimento, fundado há
aproximadamente quatro anos pela assistente social Carmen Lopes. Carmen, além
de moradora da região, também trabalhou alguns anos como educadora social no
Programa de Braços Abertos na região da Luz e conhece o território do centro
como “a palma da sua mão”. Após sua saída do Projeto de Braços Abertos,
resolveu por suas próprias forças e sem nenhum incentivo financeiro ter um
pequeno espaço onde pudesse continuar cuidando das pessoas em situação de rua
de forma humanitária, respeitosa e inclusiva. Assim nasceu o Coletivo Tem Sentimento, com o objetivo
de atuar no território da Cracolância, junto à população dos moradores de rua,
levando acolhimento, respeito, convite de autocuidado, cultura e atendimento as
necessidades básicas dessas pessoas. Este coletivo ficou durante alguns anos
sem local fixo para funcionar, mas atualmente está junto à companhia de Teatro Contêiner
Mugunzá na Rua dos Gusmões, n. 43. Inúmeras ações já foram desenvolvidas no
território: confecções de peças íntimas para as mulheres em situação de rua,
atividades culturais com as pessoas em situação em vários locais da cidade
dentre eles o Museu do Futebol, a participação do Blocolândia, bloco de
carnaval composto pelas pessoas em situação de rua, distribuição de água,
preservativos e alimentação às pessoas.
Carmen organiza ainda uma pequena
oficina de costura onde as mulheres confeccionam camisetas, bolsas e outros
materiais que são revertidos em renda para a sua própria subsistência e do coletivo . Além disso, antes da pandemia aos
sábado pela manhã o Coletivo organizava
encontros na Praça General Osorio de (auto ) cuidado com as mulheres em situação
de rua, incluindo as transexuais, para cuidado em relação ao corpo, com cortes
de cabelo, maquiagem, cuidado com as mãos, distribuição de roupas, dentre
outros cuidados voltados a melhoria da autoestima dessas pessoas. Além disto, inúmeras
rodas de conversas também eram realizadas aos sábados na praça, para escutar os
anseios e sofrimentos das pessoas.
Durante a pandemia, o Coletivo Tem Sentimento continua
trabalhando na confecção e distribuição de máscaras, distribuição de água e
produtos de higiene e, junto a demais coletivos, oferece quinhentas refeições
diárias às pessoas vulneradas sempre com muito acolhimento, respeito e ética,
pois este grupo tem como princípio norteador de suas atividades a luta contra o
preconceito, a estigmatização das pessoas em situação de rua e a defesa de seus
direitos.
Autoras:
Carmen Lopes – Assistente Social, Fundadora e Coordenadora do Coletivo Tem Sentimento.
Eroy Aparecida da Silva - Doutora em Ciências-UNIFESP, Psicoterapeuta Familiar e Comunitária, Psicóloga - Associação Fundo de Incentivo a Pesquisa-AFIP, Pesquisadora na Área de Álcool e Outras Drogas - Ativista Social e Colaboradora Voluntária do Coletivo Tem Sentimento.
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